sábado, 7 de setembro de 2013

Crítica ao extremismo religioso em Surdo Mudo, novo videoclipe de Rafael Castro



A boa educação por natureza
Não lhe permite uma palavra torpe
Pra ofender seus inimigos
Um surdo-mudo não incomoda ninguém,

É sempre desapercebido.



 No prefácio proposto por George Orwell à primeira edição inglesa do livro A revolução dos bichos, de 1945, o escritor e jornalista inglês criticou aquilo que ele denominou "covardia intelectual" e também apontou a grande importância da análise crítica da sociedade em relação a tudo que nos cerca. Tal texto foi impresso como posfácio do livro A revolução dos bichos, edição de 2007 da editora Companhia das Letras.
"A liberdade de imprensa", posfácio de
A revolução dos bichos, de George Orwell


 Intitulado de A liberdade de imprensa, o texto questiona, principalmente, a falta da análise crítica da sociedade britânica em relação a situações as quais ela sabia que eram errada. Os indivíduos que não saem do seu estado de conformismo em contextos de opressão, divergência de opiniões e desrespeito às diversidades são alvos da crítica.
 Atualmente existe uma profusão de bens culturais criados pela sociedade brasileira que são produzidos em massa e que apresentam conceitos rasos, ou seja, são produzidos com o único objetivo de serem consumidos em grande escala e ganharem seus curtos períodos de fama.  Para a produção de bens culturais sem conteúdo reflexivo e com a única finalidade de serem vendidos, tal como mercadorias, podemos dar o nome de produção da indústria cultural.

 Bom, mas por que eu estou escrevendo sobre isso na postagem sobre o novo video-clipe de Rafael Castro?
 Em primeiro lugar, o indivíduo surdo e mudo criado por Rafael Castro não deve ser analisado de forma literal. Tal personagem representa aquilo que George Orwell chamou de "covardia intelectual", ou seja, indivíduos que são surdas no sentido de não darem atenção à situações de injustiça e mudas no sentido que não criticam e encaram os problemas sociais de maneira crítica. O surdo mudo, metaforicamente, não escuta e nem se pronuncia perante os problemas da sociedade. Mas qual é esse problema que Rafael Castro quis nos mostrar?
 Após assistir ao videoclipe oficial do jovem cantor paulista, fica evidente que a crítica é em relação ao problema do fundamentalismo religioso na sociedade brasileira

 É importante salientar que a critica não é direcionada a religiosidade, mas sim a religiosidade excessiva. Eu mesmo não sou religioso, mas sei que a religião em si não é a causa dos muitos conflitos e problemas sociais que vemos no Brasil e no mundo. O fanatismo extremo, seja religioso ou não, que é a real causa desses problemas. 
 Ideologias que levam seus seguidores a desrespeitar outros indivíduos deveriam ser alvo de críticas e discussões - e Rafael Castro faz isso com grande maestria. Podemos citar ideologias religiosas que incitam o ódio e a imposição de sua crença a aqueles que não creem ou seguem outras crenças; que manipulam o sentimento da fé e exploram economicamente seus seguidores¹; que possuem representantes que defendem os interesses religiosos mesmo dentro de um Estado Laico².

"Um surdo-mudo não incomoda ninguém":
Como você reage diante de situações de exploração da fé?


 Podemos concluir que é importante e benéfico que os indivíduos de um grupo tenham uma religião que pregue o exercício do altruísmo e do respeito ao próximo, mas quando a ideologia religiosa é seguida de maneira extremista - representada no videoclipe de Rafael Castro - esta pode se tornar perigosa.

 Independente de crença religiosa, o mais certo a ser feito é não ser extremamente apegado a uma ideologia a ponto de desrespeitar aqueles que tenham uma percepção de mundo diferente da sua. Também não deve-se ficar recluso ao seu estado de conformismo em relação às situações que você sabe que são erradas: sempre que for necessário devemos analisar criticamente o que nos é oferecido, sempre atentos às reproduções em massa de bens culturais e ao conteúdo reflexivo destes. Desse modo nós começamos a questionar o mundo por nós mesmos, sem a necessidade de sermos influenciados por ideologias que possam ser extremistas e perigosas.  


Alvo da crítica de Rafael: ideologias religiosas que incitam o ódio e a imposição
 de sua crença a aqueles que não creem ou seguem outras crenças.

  • Considerações a respeito do clipe:
 - Ironicamente o videoclipe de Rafael Castro estreou no YouTube no dia 22 de julho de 2013. Ah, você não lembra o que aconteceu nesse dia? Vou te dar só uma dica: Link para notícia no G1
  Nesse mesmo dia, o cantor e compositor paulistano publicou em sua página no Facebook: "AGORA É PRA VALER! Tá lançado na rede mundial de computadores o meu novo clipe. (...) Até o Papa veio ver. Filhos de Deus, compartilhai!"
- Surdo Mudo é a segunda faixa do disco Lembra? (2012), de Rafael Castro. Este está disponível para download no site do cantor (eu recomendo: ótimo disco, bastante reflexivo, irônico e louco): Link no final da postagem.
- Aos 0:42 do vídeo percebe-se um indivíduo saboreando, ironicamente, um Guaraná Jesus

  • Para saber mais:
- Site oficial de Rafael Castro, com todo o material disponível para download: rafaelcastro.com.br
- Página do Facebook do cantorfacebook
¹Vídeo polêmico em que o pastor (e agora presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias) estipula ofertas e pede senha do cartão de fiéis: YouTube
²Ótimo Vídeo de Yuri Grecco, no YouTube: "Feliciano e a Ditadura da Maioria": YouTube
- "A importância da análise crítica, segundo George Orwell": Blog Porto de Ideias
- Texto de George Orwell, proposto pelo autor para a 1ª edição de A revolução dos bichos: A Liberdade de imprensa Eu não encontrei o texto disponível na Internet, mas sei que ele é o posfácio do mesmo livro, na versão em português, da editora Companhia das Letras.




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 ATUALIZADO:
 Intolerância (Etm. do latim: intolerantia)
 1. Característica do que é intolerante ou repugnância.
 2. Ausência de tolerância ou falta de compreensão.
 3. Comportamento - atitude odiosa e agressiva - de caráter político ou RELIGIOSO, daqueles que possuem diferentes opiniões. 
 3. Intransigência a diferentes opiniões.
 (...)
 Exemplos: Marco Feliciano